Junho 29 2009

A Presidente do PSD teve oportunidade de apresentar, em entrevista televisiva recente, o que seria o futuro da educação em Portugal se, por desgraça, um dia viesse a ser primeiro-ministro. Rasgava tudo o que foi feito.

Claro que não rasgava nada do que fez enquanto Ministra da Educação porque, simplesmente, não fez nada. Como muitos outros, durante décadas, assistiu ao subdesenvolvimento educativo de Portugal sem nada dizer nem fazer. Mas agora promete passar à acção: rasgar, repudiar, romper.

Já vimos um processo semelhante quando um dos seus mentores ideológicos, Bagão Félix, chegou ao governo e se entreteve a descredibilizar e enfraquecer um conjunto de políticas sociais que grangeram aos ministros Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso o estatuto de exemplos a seguir pelos paceiros europeus.

Como então se viu, quem perdeu, como sempre acontece quando se recua nas políticas para a justiça social, foi o país e, em particular, os portugueses mais desprovidos de recursos. Os que mais carecem da acção estatal.

Nesse tempo o discurso da tanga e da crise, semi inventado, foi a cortina de fumo que serviu para o avanço dos interesses particulares das elites do costume. Agora a crise é real, mas  para lá de toda a realidade, atrás das palavras da líder do PPD/PSD, continuam os mesmos interesses, os dos paladinos do liberalismo que nos conduziram à actual situação.

Mas afinal, o que quer Manuela Ferreira Leite rasgar?

A Iniciativa Novas Oportunidades e a vontade de se qualificarem de quase um milhão de pessoas que sempre tiveram da vida a visão do esforço e do trabalho sério e abenegado ? Despede os técnicos dos Centros Novas Oportunidades?

Pôe fim às vias vocacionais que hoje abrangem já mais de 150.000 alunos no ensino secundário, o que tem permitido que mais de 30.000 jovens, ano após ano, prossigam estudos em vez de entrar precocemente no mercado de trabalho?

Promulga a abolição das actividades de enriquecimento curricular, do inglês no primeiro ciclo, da escola a tempo inteiro? Termina a distribuição de computadores a crianças, jovens e adultos, a instalação do acesso às tecnologias nas escolas e a modernização do seu equipamento? Rompe com a  avaliação dos manuais de modo a aumentar a respectiva qualidade e com a regulação dos respectivos preços , com óbvios benefícios para os orçamentos das famílias? Repudia a triplicação da acção social escolar e as bolsas para apoio aos jovens de menores recursos económicos que lhes permitirão frequentar o ensino secundário? Manda parar as obras de modernização do parque escolar de que o nosso sistema de ensino tanto necessitava?

Cede à pressão das ruas e revoga o novo ambiente de rigor, de avaliação e valorização do mérito, de autonomia e responsabilidade, de reforço das lideranças, que se instituiu nas escolas?

Diga Ferreira Leite, é isto que vai rasgar?

Pois eu digo-lhe quem a vai apoiar: os sindicatos do PCP. No fundo, propõe exactamente o mesmo que eles. A senhora em nome de uma escola elitista e conservadora, de preferência favorecedora de novas oportunidades de negócios privados. Os sindicatos do PCP em nome de interesses  particularistas, segmentais e corporativos que sacrificam o benefício dos alunos e das famílias a uma não menos conservadora ideologia do imobilismo e da hipoteca do sistema de ensino aos privilégios imutáveis de alguns.

Aconteça o que acontecer com a sua estratégia eleitoral, Dra. Manuela Ferreira Leite, o título de melhor aliada de Mário Nogueira já ninguém lhe tira. Fica bem. A ambos.

Luís Capucha

publicado por cafe-vila-franca às 23:01

No Café Vila Franca, como nos cafés da trilogia de Álvaro Guerra, os personagens descrevem, interpretam e debatem a pequena história quotidiana da sua terra e, com visão própria, o curso da grande história de todo o mundo.
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