Há pessoas para quem não importa onde vivem. Desde que certos requisitos mínimos estejam preenchidos, qualquer local serve. Há sempre uma avaliação subjectiva nisto. Uns sentem-se bem porque o sítio onde moram, mesmo que não seja nas melhores condições, é melhor do que o sítio onde moravam. É o caso típico dos imigrantes. Outros apenas avaliam parâmetros como a segurança, a proximidade ao emprego, a existência de equipamentos nas proximidades e a qualidade da habitação, escolhendo a melhor oferta, seja onde fôr.
Mas há outras pessoas para quem isso não chega. É o meu caso. Não me limito a viver num sítio. Sou de uma terra. Ela faz parte de mim e a muito custo custo me separaria dessa parte. Tanto quanto me custa sentir que a terra é cada vez menos o que eu gosto nela.
Não se trata de provincianismo. Considero-me um cosmopolita. Nem conservadorismo tradicionalista. Considero-me um progressista. Aos 10 anos de idade comecei a sair todos os dias de Vila Franca para o Passos Manuel, onde estudei. Isso fez-me sentir mais vilafranquense e ao mesmo tempo mais inteiramente parte de um mundo maior. E a minha vida nunca deixou de confirmar esta percepção.
Nisso sou igual a muitos dos residentes no concelho de Vila Franca. Cidadãos do mundo que amam a sua terra.
É talvez por isso que sempre nos custou tão pouco receber, acolher e integrar sucessivas vagas de migrantes que vieram viver lado a lado connosco.
Para os que amam a sua terra, os que a sentem verdadeiramente como sua, ela é como que uma segunda pele. Mais sensível do que a primeira. Talvez seja essa a razão porque todos os detalhes são importantes.
Claro que mesmo em concelhos como Vila Franca até as pessoas que se sentem parte dele são diferentes umas das outras em muitos aspectos. Por isso nem todos coincidem na opinião sobre o que é melhor para a terra que é de todos. Quando assim acontece, em todos os sistemas sociais, alguém ou alguma instituição deve ter a capacidade, reconhecida por todos, para fazer a síntese. Para fornecer uma visão comum.
Ora, essa função tem estado completamente ausente no nosso concelho. O que queremos nós que seja o concelho de Vila Franca de Xira, hoje e no futuro?
Têm sido dadas duas respostas. Uma na prática. A outra nas opiniões que algumas pessoas (eu incluído) têm manifestado, com a coragem de remar contra a maré.
Na prática, quem tem dirigido os destinos do nosso concelho, desde o 25 de Abril (com pequenos lapsos de incerteza), julga que Vila Franca de Xira não pode servir senão para serventia de Lisboa. Para parque habitacional de apoio à capital, para área de logística, como passadeira de acesso, como mera "porta de entrada" na área metropolitana.
Outros querem que o concelho, sem dúvida parte dessa grande área metropolitana, tenha vida própria, orientada para a qualidade de vida.
O que é isso de qualidade de vida num território com vida própria?
A resposta a esta questão não é simples. Por isso vou tentar abordá-la em dez ou onze capítulos, a publicar à média de um por semana. A qualidade de vida implica uma visão integrada do modo como se comportam os sectores-chave. Mas para construir esssa visão integrada será preciso primeiro olhar cada sector em separado. Sem pretender ser exaustivo, referir-me-ei aos tópicos seguintes:
0. Uma imagem sincrética da história socio-económica recente do concelho
1. Emprego, actividade económica e inovação
2. Educação e formação
3. Habitação e ordenamento do teritório
4. Equipamentos sociais
5. Ambiente e desenvolvimento sustentável
6. Acessibilidades e transportes
7. Solidariedade e justiça social
8. Segurança
9. Saúde
10. Vida comunitária, associativismo e lazer
11. Cultura e Identidade
Desde já ficam todos convidados a enviar ideias, antes e depois de publicado cada um dos posts.
Um abraço e até para a semana (sobre este assunto, pois outros se podem intrometer).
Luís Capucha
Burro não é, necesariamente, quem não sabe. Esse pode nunca ter aprendido. Burro é um tipo como eu que escreve "acessores" onde está farto de saber que se deveria escrever "assessores". As inhas desculpas.