Novembro 28 2009
Vivemos num mundo cujas transformações afectam tudo o que fazemos. A globalização não é um incidente passageiro das nossas vidas. É uma mudança das próprias circunstâncias em que vivemos. É a sociedade cosmopolita global, o novo capitalismo que está a agitar a nossa actual forma de viver, qualquer que seja o lugar em que habitamos. Vila Franca está a pagar isso bem caro. Actualmente a nossa terra passa por uma “crise de identidade” resultante de variados factores, mas que não podem ser só explicados pela imolada aldeia global. É claro que existem novos mercados, novas ofertas, novos comportamentos individuais, novas políticas, novas dependências económicas em que a “construção” limita, manda, manipula a maioria das estruturas autárquicas e respectivos PDM. Não querendo carregar todo o ónus nesta última vertente, a verdade é que esta condicionou e condiciona a vertente económica de uma autarquia. E ainda mais quando esta fica, pelo menos aparentemente, refém deste grande poder. Mas isto não pode (ou não deve) explicar tudo sobre aquilo a que chegámos! Durante a semana, Vila Franca tem vida durante o dia e vai morrendo com o aproximar da tarde/noite. Morre aos sábados à tarde e, aos domingos e feriados, é uma terra de ninguém. Tirando o domingo do Colete Encarnado e o da Feira, faz lembrar aquelas terras do antigo oeste americano, que já vimos em filmes, com as ruas desertas, portas e lojas fechadas porque uns pistoleiros vão aparecer para um qualquer ajuste de contas. Temos um centro comercial obsoleto e moribundo. Temos um novo museu que atrai poucos. Temos um jardim municipal cada vez mais inacessível. Temos um novo parque lúdico em Santa Sofia que está quase sempre vazio, tal como o espaço onde se faz a nossa feira anual. Temos, no Cabo, um “salão” moribundo, que nenhuma UCI poderá salvar. Temos uma praça de toiros onde, algumas vezes, os figurantes parecem ser mais que os pagantes. Temos um Ateneu que perdeu, há muito tempo, a sua “alma”. Temos uma patriarcal com exposições que, raramente, são mais do mesmo e uma companhia teatral que de inestética tem, como principal utilidade, o nome. Temos espaços colectivos que passaram a privados, como os casos dos Combatentes e da antiga sede do Ateneu. Temos um estacionamento caótico e a pagar em locais onde tal não deveria acontecer. Temos um largo da câmara desaproveitado. Apenas local de encontro daqueles que nada têm para fazer, porque a idade já não lhes permite outras veleidades e daqueles que podem mas não querem. Temos um passado que nos orgulha, um presente que nos envergonha, um futuro que está para não ser! Não se criaram, como noutras terras, espaços apelativos para atrair a população. Ou melhor, os espaços até podem existir mas não estão aproveitados! A responsabilidade poderá ser sempre imputada à nossa edilidade. Mas será também da nossa responsabilidade este vazio, este deserto de ideias, este “deixa lá!”, “é a vida”, a crítica mordaz de que tudo está mal, mas que ninguém mexe uma palha. A apatia já não é só latente, é manifesta! No entanto, existem iniciativas de reconhecimento cultural que podem ser decididas pelos responsáveis políticos sem que tal se verifique realmente em resposta - ou pela indiferença - dos seus habitantes. Não será possível aproveitar melhor esses espaços? Criar outros, sem ficarmos reféns do cimento? Criar mais dinâmicas no centro da nossa cidade? Fazendo semanas da cultura popular, clássica, teatral, desportiva (a tauromáquica já existe e com sucesso) ou com outras denominações? E tudo isto com uma maior divulgação desses e mesmo dos actuais eventos, fazendo-os chegar mesmo à população. Um exemplo seria a colocação de placards electrónicos dinâmicos e apelativos localizados em zonas estratégicas do nosso concelho e não aqueles estáticos existentes em que poucos reparam ou, pior, ignoram. Sra. Presidente, tire-nos (ou ajude-nos a sair) desta crise, deste marasmo, deste olhar que só brilha com as lembranças de algum passado! Ou será pedir muito? António Salgado
publicado por cafe-vila-franca às 00:15

Novembro 24 2009

Depois da semi-derrota nas últimas eleições autárquicas, a actual direcção do Partido Socialista no concelho de Vila Franca de Xira parece estar a fazer tudo para perder de vez as próximas.

Sendo evidente que o PSD se tornou no único partido da oposição com capacidade para vir a disputar a liderança, aliou-se a esse partido neste mandato, não sei se subestimando as capacidades de João Carvalho ou se devido à proximadade "ideológica" entre Maria da Luz e o "centrão". A Presidente da Câmara ainda não esclareceu se vai levar o mandato até ao fim ou se prepara o lançamento de algum delfim a meio do mesmo. Em qualquer dos casos o futuro candidato ficará fragilizado pela notoriedade que será dada à concorrência. Maria da Luz Rosinha sairá assim como a única vencedora do PS na história do concelho, mas esse é um título que só lhe convém a ela.

A razão do alerta tem outros fundamentos. Se a governação do concelho tem vindo de mais a menos, algumas decisões recentes são incompreensíveis. Nomear o candidato derrotado em Vialonga como adjunto da Presidente tresanda a amiguismo. Nomear o candidato da lista para a Câmara colocado em 6º lugar para a Administração dos SMAS, depois da "semiderrota" o ter deixado de fora da vereação, não pode ser considerado se não como "empreguismo" do mesmo tipo do que levou à vereação pessoas que não têm outra qualificação que não seja a fidelidade cega em relação à líder e que não tinham outro emprego a não ser o que a integração nas listas do PS lhes ofereceu. As pessoas não são cegas e gostam pouco destas decisões moral e politicamente duvidosas.

Para colocar a cereja no bolo, na distribuição de pelouros, a educação, que tão mal tratada tem sido, foi entregue a Fernando Paulo. De mal a pior. É o reinado da ignorância e do carreirismo em estado puro.

Prometo regressar em breve com o tema da educação. Em três ou quatro posts. tantas são as coisas a dizer sobre a matéria.

Luís Capucha

publicado por cafe-vila-franca às 22:56

Novembro 18 2009
A Cataplana Ao contrário do que o nome possa sugerir, a cataplana é tudo menos plana. Há-as de diversos materiais, mas a cor e material dominante e tradicional, é o cobre. Quanto à forma, é consensual. As duas meias luas articuladas de um lado. E do outro, um fecho de mola. Fechada – quase hermeticamente - assemelha-se a uma lentilha gigante. Aberta e vista do seu lado de dentro, são claramente duas bacias geminadas, destinadas a conter qualquer coisa que se lhe queira meter dentro. Já pelo lado de fora, não sei como dizer isto…. Digamos que se as mulheres usassem armadura, seria a cobertura traseira, ao nível dos seus opulentos quadris. Mais não me atrevo a dizer porque isto é um assunto sério…. Prossigamos!.... Este apetrecho, como já se disse, feito em cobre, (acrescenta-se agora, martelado), chega às nossas cozinhas cristãs pela mão dos artesãos árabes. Árabes, que à época eram quem detinha a organização política e social aqui neste corredor ao Sol. Eram portanto quem podia usar o martelo, sem que tal fosse tido como acto, ou tentativa, de agressão. E, no caso, usaram-no para legar à descendência o precioso artefacto, que faz maravilhas às nossas papilas gostativas, a cataplana. E de tal forma as excitam que o fogo do “pecado” só se aplaca com outro pecado igualmente ardente: um bom vinho – é o chamado contra-fogo. O pior, ou o melhor, é que ao fim do terceiro ou quarto copo, excitados pelo xarope e pelas conotações lúbricas da forma da cataplana, ficavam, os pacóvios dos machos ibéricos, nossos avoengos, muito empolgados. E alarve, parva e gulosamente punham-se a tirar medidas às cataplanas das suas “matronas”, que à pala disso lá iam fazendo o gosto ao dedo, que é como quem diz…. Claro que isto é pouco Cristão mas, como Deus escreve direito por linhas tortas, o lado positivo é que assim se foi alargando a prole e fundamentando o que viria a ser a nossa civilização. Eis como – e pouca gente sabe disto – a cataplana está na origem do crescimento demográfico da população cá da terra. O que se sabe é que quando já eramos mais c’ás mães, acabamos por correr com a moirama daqui p’ra fora e gamaram-lhe os martelos mai’las cataplanas. Bom, mas deixemo-nos de “estórias” e voltemos ao cerne da questão. Esta ferramenta, dadas as suas características – o ser hermética e tal – confere-lhe a capacidade, a vocação por assim dizer, de coser (assim mesmo, com esse) os sabores dos diversos ingredientes que se lá puserem. Adicionando um pouca de gordura vegetal, casa na perfeição toda a casta de legumes com, preferencialmente, peixe, mariscos mas também carne de qualquer ordem. A norma é que o lume tem que ser parcimonioso. A cozedura lenta é a norma nesta, como noutras coisas boas desta vida. Nos nossos dias em que, dada a refinação dos nossos modos, nos transformamos em seres muito sofisticados e de “lambões” passamos a degustadores, pois então!... Esta característica, de cozinhar lentamente, favorece e muito os actuais preceitos sociais, pois deixa tempo para o convívio, enquanto vai fundindo os sabores. E por esta razão e outras que não vêm ao caso, é amiúde o repasto tipo das reuniões das nossas actuais “matronas”, (fig. abaixo) A matrona Montserrat Caballé cujas socializam entre si trocando, além de mimos, “tamparoweres” e mistelas da “Avon”como se de “tramoços” se tratasse. Adiante… Só quem nunca tenha passeado nos bairros suburbanos de classe média, aí pelo meio-dia de Sábado, é que nunca ouviu o grito de guerra que ecoa pelas esquinas: Meninas… “Qué’-se” dizer, meninas, meninas, bom, digamos que sim!... (para ler como se um pregão de varina se tratasse)…A cataplana está ao lume, vamos aqui badalar um pouco, enquanto apura!... Bom… E desta forma, polida, lá vão confidenciando umas às outras segredos de “polichinelo” e as mentiras que todas sabem sê-lo, e que sem excepção passam impolutas num tácito e muito elaborado jogo, mente tu que eu acreditarei, “óspois” trocamos: minto eu que tu acreditas… Este jogo vem desde o tempo em que a primeira macaca desceu das árvores e se tornou “Mulher Erecta”. Não se sabe muito bem o que é que ela endireitava, ou se era por se por de pé, que se dizia dela, ser “erecta”. O Kama-Sutra (manual de posições) da época, era muito menos vasto que o actual, e asseverava muito prosaicamente o “decúbito ventral”, versão articulada, como a posição normal da fêmea, que ganhou o cognome de “quasi-erecta” porque só se punha de pé para mandar vir… Pode no entanto agora, com alguma segurança, afirmar-se que tinha o condão de endireitar uma coisa nos “Homo-Erectus” que está provado “erectar-se” por influência directa dela. E esta é que é a verdadeira e científica razão de ser: “erecta”, no sentido de: aquela que “erectava”. (Dicionário Porrinhas) Bom voltemos ao jogo… O objecto fundamental deste jogo é a disputa de tudo. Seja o que for. Tudo e nada será matéria de contradição, sendo no entanto material mais utilizado: o aspecto físico próprio e o das outras comparsas, os seus meninos, os maridos… Ah e os trapinhos, nunca esquecer os trapinhos. Um exemplo disso – e escolho ao acaso - são os seus maridos. Estes têm sempre em triplicado tudo o que os das outras é suposto serem, ou terem. Os meninos idem, idem… As meninas estão todas no terceiro ano de “Bárbies”. Quanto aos trapinhos, Uiiii, nem ouso tocar nessa matéria… As suas regras, (as deste jogo) cujas nunca ninguém definiu, são no entanto sobejamente conhecidas de todas as participantes. Claro que há improvisos, quem por este ou aquele motivo não tiver marido, ou filhos, ou ambos, pode sempre arregimentar uma qualquer figura estilística que o substitua. E há sempre um sobrinho para fazer as vezes de “vingador”. (adiante se verá porquê vingadores) Ah… Já me “desquecia”, é rigorosamente proibido jogar com os maridos das outras…. Adiante… A “codrilhisse”…. Cala-te boca!.... É assim que se chama o jogo, é assim como um jogo de xadrez em que se mudam as regras a cada jogada. Percebeu? Não? Nem eu…. O que é verdade, verdadinha, é que línguas afiadas cortam o ar como chicotes dizendo coisas de assombro. Quem arrancar, AAAAh’s e OOOOOh’s, mais expressivos, demorados e densos, ganha o bacalhau. Porém, lá por dentro, onde o “tico” e o “teco” circulam a não sei quantos G Hz de velocidade - talvez não sejam assim tantos!... A actividade é frenética. Pelo canto do olho todas espiam todas, anotando mentalmente todos os pequenos - ou grandes - defeitos, descuidos ou erros cometidos à sua volta. Basta multiplicar todas por todas, para se fazer uma ideia da estafa para os pobres “ticos” e “teços”. Tico e Teco Exemplos, querem exemplos… Não percebo qual a necessidade, mas ‘tá bem. Lá vai: (mentalmente) - Pois filha, fala p’rái. Apesar de só comeres tiras de coiro, estás mais gorda que uma bácora. Atiras cá uma cataplana que dava p’rá casa real de Espanha mai’la família do Cavaco Silva e comitiva… E a roupinha… Sacos de sarapilheira de cinquenta quilos…. Agora alto e bom som: - Oh Marília, estás muito mais magra, como é que fazes? Responde a interpelada de viva voz: - Oh querida! Nada de especial… Faço muito exercício e uma dieta “Amaricana”. Agora em surdina: Fuinha… Escanzelada… Deve ser por seres tão boa que o teu marido me deita olhares gulosos! Pudera, com o que tem em casa!... Está farto de roer ossos… E depois, veste-te como se fosses a “Twiggy”, só que és p’rái do tempo do “Fons-Hinriques”... Galdéria… E os sorrisos acompanham esta guerra surda mas nunca declarada nem assumida… De repente, cortando esta torrente de mau estar, lá do canto ouve-se: O meu marido vai comprar um “Bê - Mê - Dâblio… Cresce um coro entre o efusivo e o desdém enjoado: Que bom querida!... Que bom!…. Deves mas é andar a ganha-lo pelas esquinas!... Lambisgoia!.... Claro…. Isto pensaram todas em uníssono, (pensar em uníssono? Compreendi-te!...) Como se deixa ver, as regras, se as há, são mandadas às urtigas, e é o vale tudo que impera. Mas claro… Claro que são amigas!...isso nunca esteve em causa… Depois abre-se a cataplana e o seu perfume serena tudo e todas. É engraçado mas comer bem, em regra eleva o espírito, até às mulheres!... O vinho escorre-lhes pelas goelas, bebem como se de homens se tratassem e o efeito não se faz esperar. Como é sabido, estas coisas têm três distintas fases. Primeira, a euforia. Segunda, a melancolia. E por fim, se não se tiver parado de beber: a prostração. Sorvidos que foram os primeiros golos, as comensais, individualmente consideradas, acham-se imbatíveis. Todas se consideram controladoras de tudo e todas as que a rodeiam, e as mais belas e esplendorosas criaturas. Não lhes cabe, por assim dizer, uma palhinha na “pandeireta”. Evapora-se a inveja e dissipa-se o azedume e hei-lo que chega, pujante, vigorosa, avassaladora, a segunda fase: A melancolia. Escorre viscosa por toda a sala, é uma comoção colectiva. Afinal sou uma “matrafona”, (não confundir com as: marafonas, bonecas de trapos, lindas, da aldeia de Monsanto) Marafonas Matrafona Já olhaste bem para ti por acaso? Eras tão bonita… Os palermas andavam a rapar à volta, vinham comer-te à mão… Agora, tens uma tromba que parece uma máscara Inca, o viço das carnes, murchou, a “virgínia”, que era uma rosa em botão, parece mais um “charrôco”…. Ai…Ai… Mais de metade do que consigo surripiar ao aperto de todos os meses, vai para “betume pedra” e p’rá Micas cabeleireira. O meu homem é uma seca, vem p’rá cama a cheirar a álcool e a colónia barata, das putas. “Odeispois” comigo, cruzes… Que vida!... Que merda!... O que me vale, são os meus meninos, queridos meninos…. E o sublime e genuíno sentimento maternal irrompe devastador. Comoção colectiva… Mas nenhuma dá pelo facto de isto ser uma onda gigante, colectiva… Todas por igual acham que é um assunto só seu, pessoal. Ai os meus meninos…. Os queridos de sua mamã… Como se fossem a extensão do seu ser, os filhos machos são para as suas mães os “Zorros” da história, que humilhando sexualmente as garinas, vingam as frustrações das suas progenitoras, que por sua vez, terão sido humilhadas da mesma forma no seu tempo. Até que o Sandrinho, (assim se chama o “bacorito” sem pescoço) è muito bem aviado…. Não sai ao pai não…. E é tão bonito… Parece mesmo um daqueles retratos da “OLA”. Quando for grande hão-de ser assim de gajas atrás dele… E ele numa de desprezo, nem as olha e quando pousa o olho numa, Zás… Com o seu “Big-Bizu” racha-as “dáltabaixo”… “Big-Bizu” Essas malucas têm a mania que são boas. Mas ficam a saber que a única boa a única que ele quer, é a sua querida mamã. Por estas e outras razões, fica claro porque é que os homens têm atitudes machistas. Não se está a ver quem os educou para tal, pois não? Estes sentimentos pouco edificantes, são por assim dizer a fronteira para a terceira fase. A prostração insinua-se ao de leve, o negativismo mais atroz, que de leve, passa rapidamente a pesado… Os olhos entaramelam-se, a vós tropeça e os jarretes claudicam. É física, óbvia e evidente a altercação. O sistema nervoso central, abre brechas por todo o lado. Mas a “psiké” continua a ser cabeça de cartaz. A fase aguda é cada vez mais evidente. Ouvem-se coisas de estarrecer, uma grita que já foi actriz de cinema e que até ganhou um Óscar. Só não sabe que é feito dele. E o príncipe do Mónaco chegou a propor-lhe juntarem os trapinhos, mas na altura não lhe dava jeito e a coisa ficou por ali, pela frustração do príncipe… Mas chegaram a beijar-se…. Pois claro… A sala dá voltas e voltas a imponderabilidade é total, afinal o príncipe tem orelhas de burro e uma “piça” de querubim. O estertor leva a que se engalfinhem umas nas outras, num vale de lágrimas. Carnes, suor, ranho, base e rímel, misturam-se num cozinhado horrível… A cataplana jaz vencida e as garrafas tombadas são como o rei derrotado naquele louco xadrez. Uma boa soneca deixará apenas uma dor na tola e um sabor a papéis de música, lá mais para o fim do dia. Glorioso dia, que rica cataplanada… Só de imaginar… Dói! Que cena… Custa a acreditar que criaturas, que, com a sua beleza esbatem a fealdade das rotinas diárias dos dias de hoje… As sublimes mães dos nossos filhos, nossas queridas parceiras, não só de sexo, mas de jornada, por vezes até amigas, companheiras. As mulheres, que não só as suas “cataplanas”, estão ao nosso lado para o melhor e o menos bom. Confesso, que por vezes nos estão por cima… São-nos superiores, a bem dizer…! É consensual, que nos dão lições de como se sofre com estoicismo e são já hoje, nestes momentos mais chegados, nossas concorrentes na chamada escada do sucesso. È justo que se diga, por ser verdade… Mas então como é possível, aquela loucura insana á roda da cataplana? Ora, está bem de ver! Tal como nas moedas, há duas faces, distintas e manda a retórica destas coisas, que contraditórias entre si. A cataplana, é portanto e aqui, motor de reflexão sobre a natureza humana feminina. E não uma panela bizarra, que como já se disse, aberta e vista pelo lado de fora, parece a “peida” duma gaja boa…. Gaja boa com armadura, vista de frente Vila franca de Xira, Outubro de 2006 António Capucha
publicado por cafe-vila-franca às 22:37

Novembro 10 2009

 

(continuação)
Olhando agora não o emprego, mas o desemprego, as notícias também não são animadoras.
 

 

O desemprego registado no Centro de Emprego de Vila Franca de Xira correspondia a cerca de 9,2% dos activos, contra 9,0% no Continente, em Setembro de 2009. O crescimento em relação a Outubro de 1997 foi de 8,6%, ao passo que no Continente foi de 20,8%. Mas em relação a 2007 o desemprego cresceu mais no CEVFX (+ 29,0%) do que no Continente (+ 27,5%). Dos 9252 desempregados registado no Centro de Emprego, 5981 (64,6%) são residentes em Vila Franca de Xira (eram 63,5% em Outubro de 2007).
 
O combate ao desemprego e a devolução ao concelho de uma posição menos periférica e de serventia no domínio do emprego e da economia implica, neste quadro, uma mudança profunda na visão dos responsáveis autárquicos sobre o desenvolvimento do concelho.
Evidentemente o mercado tem uma dinâmica que obedece a regras próprias e a direcção de investimento não pode ser determinado pelo poder local. Mas este influencia essa direcção, de duas formas: (i) pelo modo como gere o território; (ii) pelo esforço que faz para atrair os investidores.
No primeiro parâmetro, a qualidade dos acessos, a existência de equipamentos de apoio à família (aspecto determinante quando se trata de atrair quadros), os espaços verdes, os equipamentos de lazer, a qualidade do ambiente, o ordenamento do território, são aspectos decisivos. No segundo, conta a qualidade das infraestruturas com que as empresas contam como externalidades e a capacidade para dar condições e incentivos – no caso, mais do que financeiros, de proximidade em relação a factores críticos de competitividade, como a qualificação da mão-de-obra e a investigação – para promover sectores em que existam vantagens competitivas em relação a outros territórios que competem connosco.
Do primeiro parâmetro trataremos em crónicas seguintes. Quanto ao segundo, apontamos algumas prioridades que nos parecem óbvias, como:
-        a aposta no cluster da aeronáutica;
-        a criação de um novo cluster ligado ao mar e a todo o seu potencial, aproveitando nomeadamente a tradição criada com a memória (mais uma) deixada pelo muito qualificado Grupo nº 1 das Escolas da Armada;
-        aproveitar a tradição das indústrias químicas e de processo no concelho para o desenvolvimento de iniciativas ligadas às biotecnologias;
-        a oferta de condições para a localização no concelho de instituições de ensino superior e de investigação ligadas a estes três nichos de mercado (sem prejuízo de outras ofertas), no quadro de uma rede de serviços de apoio à inovação e à competitividade;
-        o apoio ao esforço das instituições de educação e formação para a aposta na qualificação de quadros intermédios ligados às profissões destes três ramos, numa perspectiva de investimento estratégico;
-        a promoção do segmento do turismo, cuidando em particular qualidade do ambiente, das actividades de lazer e do apoio às pequenas iniciativas inovadoras;
-        o apoio ao pequeno comércio e sua requalificação, num quadro de recuperação económica e urbanística dos centros urbanos;
-        a promoção da criação de centros de apoio ao investimento e à modernização do trabalho e das empresas;
-        o apoio ao desenvolvimento de equipamentos sociais e de emprego social (precisamente o oposto ao que fez a Câmara Municipal ao determinar, de forma pelo menos irresponsável, a falência da Associação para o Desenvolvimento e o Emprego);
-        o desenvolvimento de serviços de apoio à transição de jovens para a vida activa e para a requalificação de trabalhadores desempregados e empregados com qualificações carecidas de actualização.
 
Será demais, pedir isto? Parece-me ser, antes, o mínimo indispensável. Outros concelhos conseguiram fazê-lo. Porque havemos de ficar para trás?
 
Luís Capucha
publicado por cafe-vila-franca às 11:17

Novembro 10 2009

 

O quadro abaixo dá uma imagem da evolução mais recente do emprego estruturado no concelho.

 

Quadro 1: Trabalhadores por conta de outrem (TCO) nas empresas localizadas no concelho de Vila Franca de Xira (%) e número de estabelecimentos por sector de actividade

 

 

(para ler o quadro, clique na imagem)

 

Os dados constantes do quadro referem-se ao emprego estruturado do sector privado. Não se contabiliza assim o emprego público (incluindo nas autarquias) nem o emprego por conta própria. O total de trabalhadores por conta de outrem na economia estruturada em 1992 era 19.863, depois de ter sido 23.193 em 1982. Em 1997 o valor era 20.773, tendo subido depois (embora não mais do que cresceu a população activa residente) para 36.087 em 2007.
 Estes valores, acrescidos dos empregos não contabilizados e retirados os que vêm de fora para trabalhar nas empresas de Vila Franca, permitem-nos estimar que será menos de metade da população activa concelhia aquela que trabalha no concelho, o que confirma a vocação deste território para dormitório.
O processo de “desindustrialização” conheceu o auge na década de 80 e primeira metade da de 1990. Mas não parou nessa altura. Assim, entre 1997 e 2007 o emprego na indústria transformadora caiu de 39,3% para 21,6% (tinha sido 68,7% em 1982 e 53,9% em 1992), sendo esse o único sector em que se verificou uma quebra dos números absolutos. O recuo do sector secundário é um fenómeno mais alargado, que aqui se viu reforçado com a substituição de terrenos industriais por edifícios dos sectores da logística, enquanto as indústrias eram empurradas para os concelhos vizinhos de Benavente, Alenquer e Azambuja.
Em 2007 o comércio por grosso e a retalho é já o maior sector, com 22,8% do emprego. Se lhe juntarmos o sector dos transportes e armazenagem (que no conjunto formam a dita logística), chegamos a um total de 32,4% (somavam 30,6% em 1997). A perda de emprego na indústria fez-se a favor das actividades administrativas e dos serviços de apoio (um sector que se autonomizou e absorve 17,3% do emprego) e da construção, que subiu de 6,4% para 9,6%.
Note-se que os serviços de apoio aqui referidos são de baixo valor acrescentado, quando comparados com as actividades de ponta de consultoria, científicas, técnicas e similares (apenas 2,4%) e com as actividades financeiras e de seguros (não mais de 1,3%, valor menor do que em 1997).
A agricultura continua a ter na Lezíria um campo de excepção altamente produtivo mas que emprega uma pequena parte da população (as empresas do sector agrícola não ocupam mais de 0,4% da população activa no sector estruturado da economia), ao passo que as pequenas explorações camponesas das colinas da margem direita foram desaparecendo ou dando lugar, cada vez mais raro, à pluri-actividade. Também esses espaços passaram a ser pasto da expansão imobiliária.
A estas transformações estruturais na direcção de sectores menos ricos e produtivos corresponde também uma diminuição da dimensão média dos estabelecimentos, que era, para todo o concelho, de 9,8 trabalhadores por estabelecimento em 1997 (quando, como sabemos, algumas das maiores unidades industriais já tinham encerrado) e passou para 9,1 em 2007. Apenas 1 estabelecimento da indústria transformadora, neste ano, tinha 1660 pessoas ao serviço. Nesse mesmo sector outros 2 estabelecimentos tinham entre 500 e 999 trabalhadores ao serviço e outro entre 250 e 499 pessoas. Nas actividades administrativas e dos serviços de apoio existia 1 estabelecimento entre 500 e 999 trabalhadores e 5 entre 250 e 499. Nesta categoria de dimensão encontrávamos 3 estabelecimentos do comércio, 1 de transportes e armazenagem, 5 de actividades administrativas e dos serviços de apoio e 1 na educação. Ao todo, em 200l apenas 15 estabelecimentos tinham mais de 250 trabalhadores. As grandes empresas, continuando a marcar alguma presença, deixaram portanto de ser, há muito, a paisagem mais marcante da economia concelhia.
Em contrapartida, verificou-se um aumento das qualificações médias dos trabalhadores. Em Vila Franca, 64,7% dos trabalhadores por conta de outrem tinham no máximo o 9º ano (71,7% é o valor no país), 24,5% o ensino secundário (16,0% no país) e 10,0% o ensino superior (12,3% no país). Assim, ganhamos nas qualificações mais baixas e intermédias, mas perdemos nas mais elevadas, o que significa que nos mantemos acima das regiões menos desenvolvidas, mas deixámos de pertencer ao grupo das mais modernas e mais utilizadoras de mão-de-obra altamente qualificada.
 
Embora sem a mesma precisão com que falamos do emprego estruturado, podemos com alguma segurança indicar algumas outras dinâmicas relevantes, de que se destacam:
  1. a rarefacção do pequeno comércio e da restauração, sector com forte potencial empregador;
  2. o crescimento dos serviços públicos de saúde e educação, que são muito importantes para a vida das pessoas – mais tarde veremos se cumprem bem ou mal a sua função no concelho – mas não são o motor da economia.
O motor da economia moderna são os serviços que incorporam mais conhecimento, e esses são raros no concelho. Não há nele, de facto, nenhuma organização do sistema de apoio à inovação. As empresas mais modernas e competitivas dos sectores produtores de bens transaccionáveis são aquelas que mais incorporam conhecimento e serviços, mas, como vimos, o nosso concelho não as tem atraído e tem até vindo a perdê-las.
(continua)

 

publicado por cafe-vila-franca às 11:12

Novembro 09 2009
Situado numa posição de encruzilhada, privilegiado do ponto de vista do sistema de comunicações e transportes do país e beneficiando da vantagem comparativa da localização e concentração de meios produtivos, o concelho de Vila Franca de Xira conheceu até há algumas décadas uma relativa prosperidade, assente fundamentalmente na industrialização pesada, cruzada com a permanência de núcleos urbanos relativamente antigos e integradores. No último post desta série sobre Vila Franca de Xira deixei expressa a opinião de que o concelho perdeu entretanto centralidade administrativa ao mesmo tempo que o seu tecido económico se recompunha e empobrecia. Quanto à perda da importância administrativa, basta lembrar a saída de serviços reguladores ou responsáveis por sectores importantes como a agricultura e as comunicações. Uns ficaram centralizados em Lisboa, outros foram deslocalizados para Santarém. O ganho de peso demográfico não correspondeu sequer à capacidade de reter centros de comando e administração que conferiam centralidade a um concelho cada vez mais periférico. A perda de representação política concelhia nos órgãos de soberania nacional (por exemplo, não há na Assembleia da República um único deputado oriundo do concelho, o que nunca tinha acontecido) por um lado reflecte, e por outro lado alimentam, esta perda de importância de Vila Franca de Xira. Quanto à reestruturação do tecido económico, assistiu-se à destruição de empresas e postos de trabalho, especializando-se o território como área suburbana de apoio à capital. O traço mais notório deste processo é a desindustrialização. Restam ainda hoje na paisagem os fósseis de grandes empresas como a Cima, os descasques de arroz, a Previdente, a Mevil, a Moapão, a Argibay, a Icesa, a Eurofil. Outras foram substituídas por novos bairros. A Mague é o paradigma máximo desse processo. Persistem ainda empresas como a Solvay, as OGMA, a Tudor, a Metal, a Central de Cervejas, a Iberol, a Atral-Cipan, a Cimpor, a Cimianto, entre outras. Mas não predominam já. (continua)
publicado por cafe-vila-franca às 23:58

Novembro 03 2009

O Campeonato Nacional de futebol, a não ser que forças muito poderosas se movimentem a favor da verdade desportiva, ficou sentenciado no Domingo passado. Não no fim, com a derrota do Benfica. Foi quando o "árbitro" mostrou um cartão amarelo na primeira falta banal cometida por Fábio Coentrão. O sistema está atento e não permitirá que o Benfica se destaque na classificação. Esse foi o primeiro sinal do que viria depois no jogo. Dualidade de critérios na amostragem de cartões, golo roubado ao Benfica, grande penalidade contra o Braga por mão na bola que ficou por assinalar. E se mais fosse preciso... Como virá a ser seguramente noutros jogos. Podem-se até inventar uns pénaltis a favor do Benfica naquela Taça da Lata que não interessa a ninguém, para depois justificar toda a pouca vergonha nos jogos que realmente contam. Até que a equipa desmoralize e desça de rendimento, para no fim parecer que a culpa foi dela e não daquele cartão amarelo, sinal de alarme que pôs o sistema em movimento.

publicado por cafe-vila-franca às 17:56

No Café Vila Franca, como nos cafés da trilogia de Álvaro Guerra, os personagens descrevem, interpretam e debatem a pequena história quotidiana da sua terra e, com visão própria, o curso da grande história de todo o mundo.
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