A violência nas escolas, nas suas velhas e novas formas, colocou outra vez, pela mão do PP, a autoridade dos professores na agenda mediática. As propostas da direita, que neste ponto tendem hoje a confundir-se com as da esquerda conservadora, são conhecidas. Os problemas da violência resolvem-se com repressão e castigo sobre as crianças e as suas famílias e com decretos sobre a autoridade dos professores.
Não interessa se toda a história nos ensina que a violência e os comportamentos desviantes nunca se resolveram pela repressão. No caso das crianças, por maioria de razão, resolvem-se pela pedagogia e pela educação. E se é certo que a primeira instituição responsável pela educação é a família, não é menos certos que as famílias, em concreto, não podem dar o que não têm. Sejam recursos económicos, capital social ou educação. Se não os possuem, não podem transmitir esses recursos. Torna-se assim obrigação do estado, neste caso através da escola, dar às crianças o que a família não pode. Sem isso não há equidade nem igualdade de oportunidades. E pede-se ainda mais à escola. Que além das crianças, também eduque e qualifique os adultos e, em particular, os mais desfavorecidos. Esse é o caminho certo. Não é a repressão.
Quanto à autoridade, não se decreta. É certo que das três fontes de autoridade, tradicional, carismática e burocrática, esta última implica uma delegação de poder do estado nos professores, que o exercem em nome do interesse público. Os que a possuem por capacidade própria, podem prescindir dessa delegação de poder, porque a manutenção de uma relação pedagógica normal com os alunos decorre com naturalidade. Os que não possuem tal dom, como fazem? Primeiro, podem beneficiar de um ambiente escolar de melhor qualidade, assumindo a organização escolar, no seu conjunto, uma responsabilidade que não pode ficar apenas ao nível de cada professor. Por exemplo, numa escola com liderança, os professores mais experientes e dotados são afectos às turmas com alunos mais problemáticos.
Além disso, se não se nasce com carisma, pode-se aprender a exercer a autoridade e a dominar as técnicas que a sustentam. Infelizmente, esse tipo de competências não são treinadas nos cursos que formam professores, nem é matéria muito procurada na formação contínua. Mas disso pouco se fala.
Seja como for, a condição da autoridade dos professores não resultará de qualquer decreto. Ou é exercida na prática, ou não existe. E será sempre devedora menos da burocracia ou das leis do que da qualidade do desempenho profissional.
A autoridade dos professores, ou melhor, de cada professor, será sempre em grande parte o resulto directo da sua capacidade para educar e também da percepção da proporcionalidade entre os resultados que produz e a retribuição (monetária, mas também prestígio e satisfação profissional) que recebe. É um desempenho profissional ao nível do que é legítimo exigir-lhes o que se espera deles. E é disso que mais depende a autoridade. Sem isso a autoridade será uma palavra vazia, esgrimida apenas com objectivos demagógicos ou como desculpa para atirar para fora da relação pedagógica aquilo que ela deveria assegurar. Incluindo aprendizagem e disciplina.