Sei que pode parecer delírio, mas a minha interpretação do resultado do PS é a seguinte: 1. uma campanha de há muito lançada de forma conjugada pela comunicação social e por toda a oposição, com intervenção dos obscuros meandros policiais que inventaram o caso "Freeport" como fizeram com outros casos no passado, mais a ajuda da incapacidade do governo para conduzir as reformas necessárias em alguns sectores, a que ainda poderemos juntar os efeitos da crise internacional, conduziram a um descontentamento de muitos eleitores que tinham votado PS contra um calamitoso PSD em 2005; 2. As eleições europeias e o voto (ou não voto) de protesto desses eleitores deram a Manuela Ferreira Leite e ao Bloco de Esquerda uma vitória que a primeira não esperava e o segundo procurou à custa da total ausência de escrúpulos políticos; 3. a perspectiva de um governo chefiado por Ferreira Leite e o péssimo desempenho do Louçã na campanha levaram muita gente a optar pelo voto útil no PS, o que se traduzia nas sondagens (depois do empate técnico quinze dias antes, a dias das eleições o PS disparou para um valor entre 38 e 40%); 4. como as sondagens divulgaram esses resultados, muitos dos eleitores que queriam penalizar o PS mas não queriam que a Ferreira Leite ganhasse acabaram por se abster (já não era necessário engolir o sapo), trazendo o PS para os 36%.
Este resultado indicia uma legislatura muito complicada. A tese de todos os partidos da oposição é que o fim da maioria absoluta será bom porque obrigará Sócrates a negociar mais. Mas, para haver negociação, é preciso que os outros partidos queiram. Ora, nenhum partido esboçou o menor sinal de abertura para negociar. Particularmente grave é a atitude do PCP e do Bloco de Esquerda. Do primeiro já se sabia que parou no tempo em 1975, é do contra, e pronto. Mas do Bloco esparava muito gente que nele votou uma atitude responsável, que puxasse o governo para a esquerda, mas permitindo a governação. Ambos mantiveram o discurso do PS "inimigo nº 1" (Louçã, "o justiceiro", foi para além de fundamentalista como sempre, também mesquinho no discurso da noite eleitoral), o que pode ser muito mau para todos. Resta esperar que o novo governo aprofunde a corajem reformista, com um pouco mais de esquerda nas suas opções. Assim obrigará cada qual a assumir a sua responsabilidade.
Agora começaram as autárquicas. Não conto pronunciar-me mais sobre o assunto até ao dia posterior às eleições. E focalizarei apenas o caso de Vila Franca de Xira.
Antes de me calar quero apenas avançar com o que, a meu ver, poderá vir a acontecer. Faço-o aqui do mesmo modo que já há meses o fiz noutros locais, nomeadamente no interior do Partido em que milito.
O Partido Socialista, com Maria da Luz Rosinha, ganhou há cerca de 12 anos atrás as eleições, com uma escassa margem. Teve o seu melhor período como Presidente da Câmara e ganhou quatro anos depois com maioria absoluta, a qual viria a renovar e alargar nas eleições seguintes. Cresceram as maiorias mas a gestão do concelho foi sempre piorando (a seu tempo fundamentarei esta apreciação, sector a sector) e a qualidade dos seus vereadores foi cada vez mais fraca, ao ponto de tocar as raias do absurdo nas listas elaboradas para as presentes eleições. O eleitorado está descontente. Maria da Luz Rosinha poderia ter feito uma renovação dos candidatos de modo a alargar a base de apoio, mas recusou-se. Provavelmente perderá, por isso, a maioria absoluta. Não sei por quantos.
Procurará coligar-se ao PSD e não sei se conta terminar o mandato. Mas se este cenário se verificar, a Maria da Luz terá de ser responsabilizada. Ele era evitável.
Oxalá esteja enganado.