(continuação)
Olhando agora não o emprego, mas o desemprego, as notícias também não são animadoras.
O desemprego registado no Centro de Emprego de Vila Franca de Xira correspondia a cerca de 9,2% dos activos, contra 9,0% no Continente, em Setembro de 2009. O crescimento em relação a Outubro de 1997 foi de 8,6%, ao passo que no Continente foi de 20,8%. Mas em relação a 2007 o desemprego cresceu mais no CEVFX (+ 29,0%) do que no Continente (+ 27,5%). Dos 9252 desempregados registado no Centro de Emprego, 5981 (64,6%) são residentes em Vila Franca de Xira (eram 63,5% em Outubro de 2007).
O combate ao desemprego e a devolução ao concelho de uma posição menos periférica e de serventia no domínio do emprego e da economia implica, neste quadro, uma mudança profunda na visão dos responsáveis autárquicos sobre o desenvolvimento do concelho.
Evidentemente o mercado tem uma dinâmica que obedece a regras próprias e a direcção de investimento não pode ser determinado pelo poder local. Mas este influencia essa direcção, de duas formas: (i) pelo modo como gere o território; (ii) pelo esforço que faz para atrair os investidores.
No primeiro parâmetro, a qualidade dos acessos, a existência de equipamentos de apoio à família (aspecto determinante quando se trata de atrair quadros), os espaços verdes, os equipamentos de lazer, a qualidade do ambiente, o ordenamento do território, são aspectos decisivos. No segundo, conta a qualidade das infraestruturas com que as empresas contam como externalidades e a capacidade para dar condições e incentivos – no caso, mais do que financeiros, de proximidade em relação a factores críticos de competitividade, como a qualificação da mão-de-obra e a investigação – para promover sectores em que existam vantagens competitivas em relação a outros territórios que competem connosco.
Do primeiro parâmetro trataremos em crónicas seguintes. Quanto ao segundo, apontamos algumas prioridades que nos parecem óbvias, como:
- a aposta no cluster da aeronáutica;
- a criação de um novo cluster ligado ao mar e a todo o seu potencial, aproveitando nomeadamente a tradição criada com a memória (mais uma) deixada pelo muito qualificado Grupo nº 1 das Escolas da Armada;
- aproveitar a tradição das indústrias químicas e de processo no concelho para o desenvolvimento de iniciativas ligadas às biotecnologias;
- a oferta de condições para a localização no concelho de instituições de ensino superior e de investigação ligadas a estes três nichos de mercado (sem prejuízo de outras ofertas), no quadro de uma rede de serviços de apoio à inovação e à competitividade;
- o apoio ao esforço das instituições de educação e formação para a aposta na qualificação de quadros intermédios ligados às profissões destes três ramos, numa perspectiva de investimento estratégico;
- a promoção do segmento do turismo, cuidando em particular qualidade do ambiente, das actividades de lazer e do apoio às pequenas iniciativas inovadoras;
- o apoio ao pequeno comércio e sua requalificação, num quadro de recuperação económica e urbanística dos centros urbanos;
- a promoção da criação de centros de apoio ao investimento e à modernização do trabalho e das empresas;
- o apoio ao desenvolvimento de equipamentos sociais e de emprego social (precisamente o oposto ao que fez a Câmara Municipal ao determinar, de forma pelo menos irresponsável, a falência da Associação para o Desenvolvimento e o Emprego);
- o desenvolvimento de serviços de apoio à transição de jovens para a vida activa e para a requalificação de trabalhadores desempregados e empregados com qualificações carecidas de actualização.
Será demais, pedir isto? Parece-me ser, antes, o mínimo indispensável. Outros concelhos conseguiram fazê-lo. Porque havemos de ficar para trás?
Luís Capucha